Mythbusters 2 – serviços de primeiro mundo

boca_no_tromboneVocê já reparou como os brasileiros estão sempre postando em blogs e redes sociais a sua insatisfação com os serviços das operadoras de telefone celular! Tim, Claro ou Oi, ninguém escapa da reclamação. Não é à toa que, no Brasil,  nos seis primeiros lugares no ranking do Procom estão quatro empresas de telefonia e dois bancos: Itaú e Bradesco. Aqueles que sonham em tentar a vida em outro país têm a certeza de que encontrarão um serviço melhor por um preço mais baixo. Pois isso é coisa de primeiro mundo, certo? Será mesmo? Esse é o tema do segundo post da série Mythbusters, o serviços de “primeiro mundo”!

Definindo o mito

Uma frase para definir o mito: “os serviços destinados ao público no Canadá são melhores, mais avançados e mais baratos que no Brasil”. Como serviços podemos entender: telefonia, TV por assinatura, serviços bancários, água e luz.

Na segunda semana após a minha chegada em 2009, eu participei de uma palestra de integração ao mercado de trabalho promovida pelo MICC (Ministério da Imigração e Comunidades Culturais). Em um dado momento uma participante do grupo se pronunciou criticando duramente os planos de telefones celulares daqui. Entre outras coisas ela questionava a necessidade de pagar chamadas entrantes o que não existia no país de origem dela, Camarões. Lá no país Africano, assim como na Terra do Futebol, quem paga é quem faz a ligação certo, mas aqui é diferente.

A crítica dessa moça foi tão veemente que comecei a pensar: será que eu teria trocado os terríveis e caros serviços brasileiros por opções ainda piores no Canadá, teria eu saído da frigideira para cair no fogo? Então lembrei da frase de um amigo meu: “não é melhor nem pior, é apenas diferente”. Aqui é diferente, fazer o que?

Explicando a questão acima: no Brasil quando você liga de telefone fixo pra fixo, paga X, quando liga de fixo pra celular paga Y. Quem está ligando deve que saber que tipo de telefone o destinatário tem para saber quanto vai pagar. No Canadá o telefone fixo geralmente é ilimitado, isso mesmo, você paga cerca de 15$ por mês e faz quantas ligações quiser, incluindo para celulares. Mas se você ligar para um celular quem vai pagar o chamado “tempo de antena” é quem recebe a ligação. Ou seja, o dono do celular paga para receber chamadas, o que é pior do que no Brasil, mas o dono do telefone fixo não paga as chamadas para celular, o que é melhor do que no Brasil. Para complicar, o dono do celular pode optar por um pagamento opcional – geralmente 10$ mensais – para ter chamadas entrantes ilimitadas… Resumindo: é tão diferente que é difícil comparar.

Visão geral dos serviços

Mesmo sendo difícil comparar laranjas com bananas, seguem alguns comentários sobre os pontos fortes e fracos dos serviços oferecidos no Quebec:

1. TV por assinatura

Quando cheguei me espantei com o fato de que era necessário comprar o decodificador, cerca de 200$, pois pagar o aluguel mensal não compensava. Mas agora, com novos planos e promoções é possível ter o decodificador por empréstimo como estávamos acostumados no Brasil.

A programação é rica e há planos de canais livre escolha, o que é melhor do que pagar caro por um pacote cheio de canais que você não vai assistir.

O atendimento não é dos melhores. Um amigo meu contratou a Bell, esperou algumas semanas pela visita do técnico para ouvir ele dizer – Não dá pra instalar, o cabo é muito curto (?) – mas no vizinho o cabo cegou! Obviamente ele contratou a concorrente e somando-se mais algumas semanas de espera foram quase 2 meses sem Internet. Eu também tive problemas com a Bell no telefone e Internet e por enquanto estou satisfeito com a Videotron.

2. Telefone fixo e acesso à Internet

Os planos de telefone fixo geralmente são ilimitados para ligações locais, a conexão à Internet é rápida mas não é barata. Quando tinha Bell a velocidade era muito boa, mas a cada dois meses mais ou menos eu ficava sem Internet por várias horas, às vezes um dia inteiro. Depois que mudei para a Videotron o serviço caiu apenas uma vez e voltou ao dar um reset no modem.

Para dar uma ideia de valores, eu pago cerca de 120 dólares pelo trio: fone fixo + Internet 8mb + TV (pacote básico + 15 canais à escolha). Não tenho a mínima ideia quanto isso custaria no Brasil, vocês podem comentar se quiserem.

3. Telefone celular

Além de tudo o que já comentei acima, restam apenas dois pontos a ressaltar: 1. não ouço ninguém aqui reclamar de sinal fraco, rede congestionada ou ligações caindo; 2. o custo do minuto no pré-pago varia de 0,10$ a 0,30$.

4. Água e Luz

Fusível

Fusível

De um modo geral, imóveis residenciais não pagam água em Montreal – existem algumas exceções. A água é de boa qualidade mas conforme nosso dentista nos avisou, ela não é fluoretada.

O fornecimento de luz elétrica aqui é feito pela HydroQuebec e não temos grandes problemas. A energia é barata. Num apartamento onde o aquecimento e a água quente estão incluídos, a conta de luz sai por uns 30 a 40 dólares por mês ou menos.

Uma nota para aqueles que querem conhecer as instalações elétricas de “primeiro mundo”, um dia desses sobrecarregamos a rede elétrica com dois aparelhos de ar condicionado e ao procurar os disjuntores o que eu encontro no quadro de luz? Fusíveis, como esse da foto ao lado.

5. Serviço bancários

O sistema bancário brasileiro é muito avançado, muito mais avançado do que o sistema canadense. É claro que em qualquer biboca por aqui tem a maquininha para passar cartão de débito ou crédito, mas os sistemas de pagamento e os sistemas de home-banking não estão no mesmo nível que os do Brasil.

A compensação de cheques é lenta podendo demorar vários dias. E não existe algo como boleto, os pagamentos de contas são feitos de forma parecida com depósitos mas nem sempre o seu banco é conveniado para fazer determinado pagamento. Muitas pessoas pagam suas contas enviando cheques pelo correio, coisa de louco!

Pra mim, o que mais faz falta é algo equivalente ao DOC ou TED: um sistema para transferir dinheiro de qualquer conta para qualquer conta, existe aqui algo parecido mas é extremamente complicado. Por outro lado, as agências são mais tranquilas, as filas pequenas e o atendimento bem pessoal.

Um fato interessante por aqui é a questão do dólar americano, você vai no caixa fazer um saque e diz: por favor eu quero fazer o saque em US dolars, e voilà está feito.

Passando a régua

Dados os fatos acima percebemos que os serviços aqui tem pontos altos e baixos como no Brasil. Mesmo se as centrais de atendimento são menos congestionadas e o atendimento é eficaz de um modo geral, mas nem sempre somos tratados como gostaríamos. Aqui também acontecem cobranças erradas, problemas técnicos e dificuldades na hora de cancelar um serviço.

Acho que o mito pode ser confirmado principalmente pelo serviço porco e atendimento ineficaz das empresas de telecomunicações no Brasil. Tecnicamente porém o Brasil não fica atrás e em alguns aspectos está até na frente. Mas no final das contas, tanto lá como aqui, as empresas prestadoras de serviços estão lá para ganhar de dinheiro e não pra fazer caridade. Reconheça: eles nunca te amaram, só estão de olho no seu dinheiro!

6 opiniões sobre “Mythbusters 2 – serviços de primeiro mundo

  1. Pra variar, é só questão de problemas diferentes. Acho estamos muito bem servidos em relação a serviços básicos no Brasil, mesmo se comparados a países de primeiro mundo como EUA, Canadá ou França. O problema é o preço de boa parte deles aqui. Na França você precisa pagar pra ter TV aberta em casa, o que acaba estimulando a alta taxa de leitura do país. Os sistemas bancários daqui são mais avançados, mas nos EUA você vai tranquilo num caixa automático a noite. Ou seja, estamos compensando falta de segurança com sistemas mais avançados. Lá meu pagava minhas contas mandando os cheques pelo correio. Vou confirmar aqui em casa, mas acho que nossos combo TV +internet + telefone anda mais barato que esse seu, com muitos canais (alguém aqui precisa acompanhar futebol americano, europeu, rugby, baseball, aumenta consideravelmente o pacote).
    Falando em celular, a TIM tá dando um banho de água gelada lá em Curitiba e todo mundo tá reclamando e sem sinal. Parece que aumentaram muito o número de linhas sem aumentar a capacidade. Amadores.

  2. Haha, adorei a ultima frase! Realmente, eles nunca nos amaram!

    A coisa que mais estranhei aqui foram os pacotes de internet com limite. No Brasil, tanto em casa como no celular eu pagava e usava sem me preocupar. Aqui eu tive que testar para saber quantos GBs eu preciso por mês para nao ter surpresas na hora da conta. E acho os planos de dados para celular muito caros, tanto que ainda nao tive coragem de fazer e me viro com wifi. No Brasil, pagava $30 para dados ilimitados com a TIM e funcionava muito bem.

    Com relaçao aos bancos, me sinto no seculo passado. Eu nao acreditava que nao existia nada similar ao DOC. Achava que era a gente que nao estava sabendo explicar ou sabendo entender. É incrivel, mas realmente nao se pode fazer transferencia de um banco a outro usando a internet (no meu caso, do TD Canada Trust para o HSBC). Estamos usando cheques para a transferência, coisa que nao faziamos ha anos no Brasil. Mas, ao contrario do que você disse, o valor do cheque depositado no caixa eletronico cai na minha conta no mesmo dia. No Brasil, tinha uma espera para confirmar que o valor depositado estava correto, aqui acho que rola uma “confiança” de que você escreveu o valor correto na hora do deposito. Claro que eles devem checar depois, mas valor ja aparece disponivel na hora na minha conta.

    O fato da agua ser incluida nos alugeis me preocupa um pouco. Tenho a impressao de que todo mundo desperdiça demais por ser “de graça”.

    Fora isso, sou muito a favor da filosofia do “não é melhor nem pior, é apenas diferente”. Ficar reclamando nao leva a nada. O que tento fazer é me adaptar as regras locais e procurar as melhores alternativas disponiveis. O lado ruim de ser imigrante é que você tem que aprender tudo de novo, mas o lado bom é que isso te obriga a ser um consumidor mais consciente.

    Otimo post, Sandro! 🙂

  3. É,acho que se a gente faz sisteminha de atribuiçao de pontos para esses itens que vc mencionou, acaba dando impate técnico. Agumas coisas sao diferentes e ruins nos dois países, ou bons nos dois, ou ruim em um mas bom no outro…Sei que no que diz respeito a bancos, fico feliz por tres coisas: 1) foram raras as vezes que precisei usar os serviços mixurucos dos bancos daqui 2) fico feliz que o banco que usamos aqui é “camarada”, liberando depósitos em cheque na hora e 3)a ausência da maldita porta giratória me faz respirar fundo com os olhinhos fechados ao mesmo tempo que penso: agora eu sou uma pessoa (mais) feliz!! 🙂

    Acho que embora nao seja o mais correto, é impossível nao comparar, mesmo que a gente nao comente com outros nossas comparaçoes, pelo simples fato de todo nossa experiencia na “vida passada” fazer parte de nossa forma de raciocinar, ao menos enquanto formos “novos” por aqui (me perguntando nesse momento se um dia deixarei de viver momentos em que me sinto “nova” aqui …)…

    Abraços
    Erika

  4. Dá pra transferir dinheiro pela internet sim. Chama-se e-mail money transfer, é um produto da Interac. Infelizmente nem todos os bancos são conveniados (o HSBC infelizmente não é).

  5. Oi, Sandro!

    Muito bom o post e gosto muito quando vc fala: aqui nao eh melhor nem pior, eh so diferente.

    Gostaria de acrescentar dois pontos, infelizmente, negativos.

    Minhas ligacoes de celular caem sim e muito.
    Ja acontecereu incontaveis vezes quando alguem me liga ou quando eu ligo pra alguem, entao nao sei se posso associar esse problema à minha operadora, a Fido.

    Outro ponto eh que ouvimos de conhecidos que fazer transferencias bancarias sai extremamente caro.
    Nem estou falando de DOC ou TED (nem sei se existe aqui mesmo), mas de transferencia no mesmo banco, no meu caso me refiro ao HSBC.
    Meus colegas tem aquela conta aberta internacionalmente, nao pagam tarifa aqui, mas na conta brasileira (e nao eh barata).
    Eles falaram que uma transferencia entre conta corrente custou a eles 15 dolares e a quem receber os mesmos 15!!!
    Ou seja, os 40 dolares que eles deviam pra pessoa acabou virando 55 pra eles e 25 pra quem recebeu! rsss
    Eu acho um absurdo!!!!!!!!! Socorro! rsss

    Enfim… nessas duas situacoes, acredito estarmos em desvantagem.
    Mas uma coisa que tiro de minha experiencia de vida, eh que nao podemos ter tudo ao mesmo tempo e que, por isso, devemos ser flexiveis…

    Ate mais. 🙂

  6. Juliana,

    Seus amigos devem ter usado o serviço WireTransfer que custa 15$ e equivale ao DOC. Mas existe a opção transferência entre duas contas do HSBC. É feita via internet-bank sem custo algum… já fiz várias vezes.

    Um abraço,

    Sandro

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