Cinco anos no Canadá, mas já?

Sim já! Poderia dizer: “parece que foi ontem que chegamos no aeroporto cheios de mala”… só que não. Claro que o tempo passou rápido, mas aconteceu muita coisa nesses últimos 5 anos, a nossa vida mudou ao longo do tempo e nós também mudamos! Então esse será um post longo mas acho que, para quem está vindo ou acabou de chegar, vale apena ler.

Fizemos dois posts de aniversário com um balanço da nossa adaptação: um ano e dois anos no Canadá, não houve post de três ou quatro anos. Uma pena, porque é muito divertido ler os posts de mais de três anos atrás e ver o quanto avançamos desde lá e ver que os problemas dos primeiros anos foram substituídos por outros bem mais interessantes.

Eu acho que fazer mais um balanço está fora de propósito, pois faz tempo que decidimos evitar comparações. Então vou fazer uma análise direta dos desafios, das conquistas e bençãos recebidas e do que ainda estamos perseguindo. E termino com dicas para os próximos.

Trabalho e carreira

Nosso plano ao mudar para o Quebec sempre foi: Sandro vai trabalhar, Adriana vai estudar. Então esta seção se aplica apenas ao Sandro.

O desafio:

Desenvolver-se profissionalmente em um nível igual ou melhor do que eu teria no Brasil.

Motivos para agradecer:

Foram apenas três primeiros meses procurando emprego quando chegamos. Depois disso consegui trabalhar na minha área, só demorei um pouco a alcançar o nível em que estava no Brasil por causa de limitações no inglês.

Mudei de emprego novamente no início de 2014. A empresa onde eu trabalhava fechou as portas, mas dois dias antes do anúncio do fechamento eu já tinha recebido uma proposta de outra firma. Agora estou começando de novo numa grande multinacional e estou muito satisfeito com a posição onde estou.

Tenho também que admitir que seria impossível ocupar a posição que eu ocupo hoje quando chegamos alguns anos atrás, meu inglês e meu conhecimento do mercado local seriam insuficientes e eu nem mesmo seria chamado para a entrevista.

O que não é perfeito:

Eu sinto que ainda falta um pouco de fluência no inglês e no francês.

Lições:

Aprendi que, ao menos na área de TI, existem muito mais opções de empresas para se trabalhar do que eu tinha em Curitiba e é preciso levar em conta que Montreal e Curitiba tem o mesmo tamanho.

Estudo

Pelo motivo explicado acima, esta seção se aplica apenas à Adriana.

O desafio:

Terminar o bacharelado conciliando estudos com a rotina familiar e as contas para pagar, coisa que no Brasil nunca foi possível.

Motivos para agradecer:

Já foram quase três certificados concluídos, cada um dura cerca de um ano de estudo em tempo integral. Mesmo com filhos pequenos foi possível concluir: um certificado (equivale a um ano de estudo universitário) de francês na UdM, um certificado em recursos humanos na UQAM e termino agora no verão o certificado de administração.

A ideia é usar os créditos dos últimos certificados para ser admitida no último ano do BAC em gestão de recursos humanos, para isso é necessário ter uma boa média nas matérias cursadas nos certificados, o que felizmente tem sido alcançado.

Mesmo com a prioridade nos estudos, tive a oportunidade de trabalhar seis meses em tempo parcial numa empresa tipicamente quebecoise. É excelente ter uma degustação do que é o mercado de trabalho antes de terminar a formação.

O que não é perfeito:

O estudo universitário no Canadá é muito diferente do Brasil. É preciso ser autodidata e é preciso dedicar várias horas de estudo em casa. Fazer isso numa segunda língua torna o processo mais cansativo e demorado.

A experiência de trabalho foi uma experiência intensa, em algumas empresas é bem difícil ser aceito logo de cara sendo estrangeiro e não sendo 100% fluente.

Lições:

No aspecto financeiro, é mais fácil estudar no Quebec do que no Brasil. A anuidade não é muito cara e é possível contar com empréstimo e até mesmo bolsa, conforme a condição financeira da família. Esse fatores ajudaram bastante a atingir as conquistas acima.

Crianças

O desafio:

Prover às crianças boa educação na escola e no lar, minimizando os impactos negativos de uma mudança de cultura e língua.

Motivos para agradecer:

Temos que ser gratos pelo fato de termos conseguido encontrar boas opções de escola e garderie. A quantidade de conhecimento que eles acumulam, a número de amigos, as atividades culturais à quais eles têm acesso são surpreendentes.

Um outro motivo de agradecimento, mas que talvez nada tenha a ver com a imigração, é que a saúde deles vai muito bem. Nenhuma doença crônica, não me lembro da última noite em claro cuidando de crianças tossindo ou com febre.

No quesito língua as crianças estão se desenvolvendo bem, as notas de francês estão acima da média da classe e as crianças não perderam o português – o que damos muita importância. O inglês vem um pouco atrás mas é suficiente para acompanhar, por exemplo, um desenho animado em inglês ou entender a letra de uma música. Ou seja, filhos caminhando para o trilínguismo!

O que não é perfeito:

Sentimos que a escola no Quebec deixa a educação moral exclusivamente ao cargo dos pais. É claro que essa é uma obrigação da família: professor ensina, quem educa são os pais. Mas temos certeza que no Brasil teríamos um apoio maior da escola. É claro que estou fazendo uma comparação injusta, pois no Brasil nossos filhos estariam provavelmente numa escola particular ligada a uma instituição religosa, onde os valores seriam os mesmos que os nossos.

Lições:

qualidade do ensino em Montreal não é assim tão uniforme. Algumas escolas são realmente melhores que as outras, morar no bairro certo e conseguir vaga nas boas garderies são decisões bem complicadas para os recém chegados.

Amigos

O desafio:

Manter e/ou construir uma comunidade de amigos.

Motivos para agradecer:

Nós não imigramos sozinhos, viemos cercados de amigos que também decidiram imigrar na mesma época que nós. Naturalmente,  alguns se tornaram mais próximos enquanto outros a se afastaram. Com o tempo, acabamos conhecendo muitas pessoas em Montreal que acabaram se tornando amigos também.

O que não é perfeito:

A maioria dos nossos amigos são brasileiros, nada contra, mas tínhamos outra expectativa a cinco anos atrás. Mas o pior de tudo é que sentimos que não temos tempo para curtir as amizades e tentar novos contatos.

Sentimos falta da família e de alguns amigos que ficaram no Brasil.

Lições:

A comunidade local está parcialmente aberta para os imigrantes brasileiros. Eles nos querem alugando imóveis, consumindo, estudando ou trabalhando. Mas poucos esperam que os recém-chegados ser tornem um novo amigo. Se há penúria de profissionais em certas áreas, enfermagem por exemplo, não há penúria de amigos.

Os quebequenses de modo geral tem a família e mais dois ou três bons amigos e se contentam com isso. Não é que seja difícil entrar na panelinha, o problema que é não tem nem panela para entrar. Dizem que existem exceções, infelizmente não temos tempo para garimpar amigos locais. Solteiros parecem que se integram de forma bem mais completa.

Vivendo a vida

Nem só de coisas sérias é feita a vida, diversão, turismo, cultura e lazer são também importantes. Essa é uma vantagem de ser novo num lugar. Você é um turista na sua própria cidade, tudo é novidade, um museu, um parque ou um restaurante. Cada dia uma descoberta, e Montreal é uma cidade excelente nesse sentido.

Para aqueles que pensam em vir ou que acabaram de chegar

A vida em fases

Olhando para trás vimos que os últimos cinco anos foram repetições do ciclo:

  • descobrir e aprender
  • curtir a novidade
  • encarar problemas
  • superar problemas
  • passar para a próxima fase (onde tudo recomeça)

Após cada fase de adaptação curtimos aquilo que descobrimos ou aprendemos, a cada problema encontrado temos a alegria da superação. Após subir de fase tudo se repete mas com questões diferentes.

Nem todos esse ciclos estão ligados a questão da imigração, alguns fazem parte da vida, mas mudar de país acelara o processo. E mesmo após cinco anos os ciclos não acabaram, mas estão mais longos e mais integrados na rotina.

Quando nós chegamos aqui, esperávamos que essa montanha russa ia durar apenas um ano – bobinhos. Ela dura bem mais e depende de cada pessoa e cada família. Então prepare-se para pelo menos 5 anos de uma vida intensa, cheia de problemas e superações.

E depois de 5 anos? Ainda não sei, volto mais tarde pra contar!

12 opiniões sobre “Cinco anos no Canadá, mas já?

  1. Como sempre os seus posts são animadores, cheios de vida, esperança e uma boa dose de otimismo e perseverança. Eu embarco mês que vem, e se eu me lembro acho que há uns 4 anos acompanho a saga de vocês e de outros colegas que possuem blog. E é sempre legal ver relatos conscientes e bem direcionados de quem está no mesmo barco. Parabéns pelo sucesso, pela família e que Deus continue abençoando até o próximo post daqui a cinco anos.

  2. Muito bom o post… Realmente a montnha russa emocional é intensa e longa. Estamos numa nova fase, com novos desafios e boas conquistas… Mas a estrada para a integração é longa.
    Que Papai do Céu cotinue juntinho de todos nós.
    Abçsss….

  3. Post espetacular, mas não fico surpreso sendo no blog de vocês.

    Enquanto lia, fiquei imaginando como será a nossa experiência e torcendo para que a inspiração do seu texto seja nossa realidade: curtir, aprender e viver bastante.

    Muito obrigado por compartilhar e espero que um dia a gente possa se conhecer realmente em Montreal, para as crianças brincarem juntas e criarem novos laços !

  4. Olá, Sandro!
    Muito obrigada por dividir aqui realidades e emoções destes cinco anos, tão bem escritas e coerentes.
    Parabéns!
    Você não imagina o quanto isso contribui para iniciantes como eu.
    Abraços e Vida que segue…
    Nilian

  5. Pessoal obrigado pelos comentários e pelos parabéns. Fiquei espantado com as pessoas elogiando o posicionamento positivo do post, principalmente porque eu sou um reclamão… blog também é terapia. 🙂

  6. Gostei muito de seu relato, comecei a planejar minha ida com a familia, dificuldades existem mas estão sendo postas em ordem de resolução, nada é facil, mas o final por tudo que vi e lí, é recompensador, esta semana eu e esposa começaremos o curso de ingles e frances, ela vai tentar a faculdade, crianças ja estão grandinhas (15 e 10 anos), eu tenho meu escritorio virtual o qual, mudando vou manter pois mesmo sem faculdades minha renda é equivalente a formados do canada, so gostaria de saber o que seria aconselhavel ela fazer a faculdade de letras aqui ou alguma direto no canada, ou cursos técnicos , e se seria possivel eu ir com minha renda para lá sem precisar emprego, só com curso de linguas, e pedir o visto de residente, pretendo ir em 2015, se puder me ajudar a esclarecer estas duvidas e me indicar parte do caminho das pedras fico agradecido.. obrigado e parabéns mais uma vez pela iniciativa, seus depoimentos são encorajadores…

  7. Oi… super bacana o post… achei no Google exatamente porque eu vou me candidatar a um certificado em RH na UQAM pra sessao de inverno e queria ver se encontrava experiencias de outras pessoas, por sorte achei o teu relato :). Sera que podemos trocar uma ideia? Eu fiz o TFI e meu score foi 750… To meio preocupado com as chances de ser aceito ou nao…Tem alguma dica… se nao for pedir demais 🙂

    • O seu TFI está bom, a aceitação depende mais do seu curriculo acadêmico e até mesmo profissional, os fatores mudam também de acordo com a idade. A avaliação será feita pelo seu perfil, essas informações estão no site da UQAM.

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