Corrente do Bem

Banco de alimentos

Banco de alimentos

Não! Esse post não é sobre o filme com o mesmo título o qual, diga-se de passagem, nunca tive a oportunidade de assistir. Na verdade vou tocar num assunto polêmico que eu evitei abordar no blog por 5 anos, porém, antes vou explicar o que quero dizer com o título.

Quando entramos nesse projeto maluco de imigração, lá nos idos de 2007, a informação era bem mais escassa do que hoje. Os poucos os sites que existiam foram de muita ajuda: um grupo no Yahoo que desapareceu, uma comunidade do Orkut e principalmente o fórum Brasil Quebec. Os blogs eram poucos e geralmente as pessoas estavam começando também o processo e estavam tão perdidas quanto a gente. Mesmo assim a troca de informações foi de grande ajuda e esse é passar a gentileza adiante é o principal motivo pelo qual o blog ainda está ativo por tanto tempo.

Outro exemplo de corrente do bem é a ajuda, física, aos recém chegados. Um amigo de longa data nos buscou no aeroporto e ofereceu várias caronas paras as nossas primeiras compras. Naquele momento estávamos nos instalando, desempregados e sem carro. Mesmo assim sempre oferecíamos para ao menos rachar a gasolina, ao que ele sempre respondia: “Quando você tiver carro, ajude também as outras pessoas, esse é o melhor pagamento“. Dessa forma sempre damos carona, dentro do possível, àqueles que não tem carro e precisam fazer, por exemplo, aquela compra de mês.

Entrando na polêmica

Então qual seria o assunto polêmico desse post? O tema é: a controvertida cesta de alimentos. Essas cestas básicas são doadas por várias OMGs com o intuito de ajudar pessoas em necessidade, muitos residentes permanentes recorrem a essa ajuda nos primeiros meses. Muito questionamento surgiu sobre o verdadeiro público alvo desses programas, e muitos brasileiros consideram o uso desse auxílio como um abuso do sistema. Pelo menos uma das ONGs confirmou – eu fui lá perguntar – que a ajuda era legitimamente destinada aos imigrantes recém chegados, incluindo os trabalhadores qualificados. Mas pontos de vistas diferentes alimentaram a polêmica.

O tempo fechou na blogosfera

Nos idos de 2009, a discussão esquentou tanto que alguns blogueiros criticaram abertamente outros blogs por festejarem a existência desses programas. Às vezes a alegria de ter essa ajuda soava como aproveitamento, um pulo do gato, como uma oportunidade de se dar bem. Chegou a um ponto que muitos blogueiros encerraram os seus blogs por medo de que suas palavras fossem usadas contra eles, dentro ou fora do contexto ou simplesmente por que o clima azedou.

Os argumentos contra a prática de pegar as tais cestas geralmente invocavam o fato de que o imigrante qualificado não precisaria realmente dessa ajuda e que estaria tirando o auxílio de quem estaria mais necessitado. Também havia a acusação de que brasileiros, não tão necessitados, estavam usando a cesta para economizar para fazer turismo ou comprar supérfluos.

Em defesa da prática, internaltas argumentavam que as ONG cadastram e triam os beneficiários e o desemprego qualifica o imigrante como legítimo beneficiário dos programas. Outros salientavam que nem todos os imigrantes qualificados vêm em condições financeiras favoráveis e que o dinheiro pode acabar sim, caso o emprego não chegue logo.

Mudando o paradigma

Não quero reaquecer a discussão mas se você quer dar sua opinião pode utilizar a enquete está aberta na barra lateral ou deixar um comentário. Mas a mensagem que eu quero passar é outra, vamos por um momento sair do papel de beneficiário e pensarmos como provedores? A pessoa que se propõem a devolver a gentileza, a ajudar o próximo quando pode, não precisa ter vergonha ou culpa de receber ajuda quando em necessidade. E ainda mais, aquele que usou esse auxílio quando em necessidade e agora está tranquilo tem a obrigação moral de retribuir a ajuda. Então, seguindo a lógica do meu amigo caroneiro, agora que estou bem instalado é hora de ajudar os outros!

A empresa onde eu trabalho sempre organiza eventos de voluntariado e eu tive a oportunidade de participar de um desse eventos exatamente num banco de alimentos. Não é uma ONG que distribui diretamente cestas mas ela recolhe e redistribui doações de alimentos para abrigos e para outras ONGs que entregam cestas. Os alimentos doados precisam ser triados e distribuídos e para isso eles precisam de voluntários e é aí que eu entro.

Fico pensando que os alimentos que foram triados vão acabar na casa de imigrantes recém chegados, brasileiros ou não, qualificados ou não e talvez até na casa de algum leitor do blog. Se for esse caso fica a dica: assim que você estiver bem instalado devolva a gentileza, dê continuidade a essa corrente do bem.

P.S. farei outro post para contar detalhes sobre o voluntariado.

8 opiniões sobre “Corrente do Bem

  1. Sandro, Acho e concordo plenamente com vc.. A curto prazo estamos desempregados e acredito que toda ajuda é bem vinda… Uma vez perguntei porque uma brasileira estava me ajudando tanto e ela disse isso: Me ajudaram e estou repassando.. pagamos as custas da imigração, para lá na frente, se necessário, utilizarmos desse benefício..(provisório).
    Mais uma vez, excelente Post e já votei!

  2. Também concordo com o Sandro, como estou na primeira fase do processo dei entrada nos documentos na parte provincial no mês passado espero está ajuda de outras pessoas e caso necessitar da ajuda do governo vou busca-lá, mais o meu maior medo é como não conheço ninguém no Canadá é ter dificuldades na chegada, mais espero até terminar o processo poder ter contatos com pessoas já estabelecidas no Canadá.

  3. Marco Aurélio, posso dizer por experiência própria, se vc precisar de ajuda, ela virá, assim, como mágica, rs.
    Estou em Montreal há menos de dois meses e a solidariedade a qual eu tenho percebido através das próprias redes sociais é incrível. Existem grupos no facebook de imigrantes brasileiros e sempre aparece alguém pedindo doação de móveis, roupas, eletrodomésticos, etc. Nesses quase dois meses, não vi um post sem resposta, logo, sem ajuda.
    Eu mesma, não estou aqui (com o perdão da palavra), cagando dinheiro, só meu marido está trabalhando, temos um filho pequeno, gato, cachorro e ainda pagamos o aluguel da minha mãe lá no Brasil, mas felizmente não precisamos até o momento de ajuda do governo, mas se isso chegar a acontecer, com certeza iremos recorrer e pedir.
    E por fim, quero dizer que concordo plenamente com o Sandro no que tange a retribuirmos a ajuda, seja de onde ela tenha vindo, ou de que tipo ela foi, uma informação que agregou, uma doação, uma dica de loja, mercado, etc.
    O que pudermos fazer para ajudar será sempre bem vindo, e citando aquela frase já clichê, mas não sem fundamento, GENTILEZA GERA GENTILEZA.

  4. É um assunto polêmico na rodinha brasileira, mas sabemos que no Brasil a desigualdade social é grande, uns chegam com mais grana, outros com menos. O pessoal de TI ainda consegue emprego mais rapido enquanto outros têm que fazer equivalencia de diploma, voltar para os bancos da escola, gastar uma grana para entrar na ordem profissional, têm 2 ou 3 filhos, etc. Cada um sabe onde o calo aperta. Eu jamais julgaria uma pessoa por depender da cesta basica no começo, visto que ela esta insegura e nao sabe quando vai entrar uma grana, mas quando ela estiver estabilizada e com emprego ela vai contribuir e retribuir com impostos ou mesmo com trabalhos voluntarios. Mas é uma boa discussao para reflexao! Ajudar quem esta precisando tb é importante, estamos longe da familia, os novos arrivants nao sabem como as coisas funcionam, nao custa nada ser gentil e ajudar, nem que seja no forum ou na comunidade do facebook respondendo duvidas. Abraço

  5. Sandro, voce poderia me passar o endereço da ONG com O Service de Dépannage Alimentaire aos novos imigrantes (encontrei no google milhares diferentes em Montreal) ? Posso dizer, e não tenho vergonha disso, que qualquer auxílio em nome da segurança nos deixa muito mais tranquilos. Vim para o Canada e não planejava solicitar esse tipo de auxílio, mas realmente os gastos iniciais drenam recursos e a paridade com o dólar é horrível.
    Mesmo tendo dinheiro para nos mantermos durante um tempo, fazendo francisação e nos preparando para o mercado de trabalho, vemos nossas economias aos poucos indo embora. Esse dinheiro que poderia ser usado para melhoria das nossas condições de vida (comprar uma casa, investir em cursos e estudar).
    Sim, vejo que a sociedade aqui é diferente em um ponto: a gentileza retorna. As pessoas aqui não tem vergonha de falar que solicitam os auxílios do governo, que pagam seus impostos e que todos tem direito de ter uma vida com o mínimo de qualidade possível. E conheci vários que fazem trabalhos voluntários ou que tem orgulho de trabalhar com o público carente. Pelo menos, essa foi nossa experiencia até agora.

    • Olha Poussin, só conheço duas e não saberia te dar maiores detalhes, vou passar o nome e sugerir uma busca no google:
      Mission Bon Accueil
      Nouvelle Vie (uma igreja na Av. Papineau)

      P.S. existem dezenas de outros organismos

  6. Olá Sandro, primeiramente parabéns pelo blog, ajuda muito realmente. Será que não temos como criar uma comunidade dessas também a partir do seu blog? pode ser facebook, skype, onde for, mas se não fossem esse tipo de ajuda de blog e sites assim meu processo teria sido MUITO mais dificil.. isso realmente ajuda muito.. isso que ainda não cheguei em Montreal. Estou na fase de pegar o visto.. já fiz os exames médicos e estou na espera de pedirem os passaportes.. mas o que importa é que se isso tudo ajudou tanto até agora imagina o quanto vai ajudar quando eu chegar. Eu não conheço ninguém em Montreal e gostaria demais de dicas, coisas básicas, e de alguém que eu possa ter contato, tipo alguém que fale: Mande sua carteira de RP pra minha casa.. pois eu nem imagino pra onde ela vai ..kkkkk… E isso que vc colocou de pegue a ajuda e ajude quando for sua vez é perfeito!!! eu penso exatamente assim, peça ajuda quando precisar e ajude sempre que puder.. é a melhor forma de retribuição. Grande abraço e tudo de bom pra vc sempre cara.!!!

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