Dez anos aprendendo a falar “canadense”

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Quão fluente você precisa ser para viver em outro país? Esse é um assunto polêmico. Enquanto algumas pessoas investem centenas de horas de preparo em línguas estrangeiras antes de emigrar, outros embarcam com o mínimo possível ou às vezes, nada.

Em grupos de discussões sobre imigração para o Canadá há sempre pessoas perguntando: “é fácil conseguir emprego no Canadá sem falar nada de inglês ou francês?”. Tudo é possível, mas vale a pena? Nós investimos bastante no aprendizado do francês antes de vir para o Quebec e viemos confiantes em relação ao nosso nível inglês que tinhámos na época. Nós achamos que estávamos bem na fita, mas na verdade poderia estar ainda melhor.

Razões pelas quais nós nos dedicamos ao domínio das línguas

Seja para desenvolver uma carreira, estudar ou viver a qualidade de vida de um país de primeiro mundo, quando você chega para morar em um país diferente você vai precisar:

  • Sobreviver
  • Interagir com a cultura local
  • Desenvolver-se  – seja no estudo ou na carreira

Todos esses elementos exigem um nível intermediário ou avançado da língua. Talvez você esteja se perguntando, como assim sobreviver? Sim você precisa da língua para tarefas simples como pedir direções quando se está perdido ou perguntar ao motorista do ônibus em que ponto descer. Agora imagine-se em um acidente ou numa emergência médica, onde se comunicar bem com a equipe de emergência pode significar vida ou morte de você ou de outra pessoa?

Muitos brasileiros investem um monte de dinheiro para estudar no Canadá, mas chegam aqui ainda precisando aprender a língua. Para estes, cada frase não compreendida em sala de aula é dinheiro sendo perdido. Na carreira é a mesma coisa, embora seja possível conseguir empregos de sobrevivência sem falar direito o inglês ou o francês, esse empregos geralmente vão ser piores e pagar menos do que funções parecidas onde se exige um nível mais alto de comunicação.

Convivência e integração

Outra reclamação constante de brasileiros é a dificuldade de fazer amigos no Canadá fora do círculo de imigrantes brasileiros. Isso é um problema real mas que se torna muito menor quando somos capazes de nos comunicar bem e entender o contexto cultural. Ninguém quer ser amigo de alguém com quem você não consegue ter uma conversa longa ou que não compartilha os mesmos interesses.

O conhecimento avançado das línguas traz consigo a integração cultural e abre oportunidades de relacionamento, trabalho e crescimento pessoal. Você pode vir sem falar nem inglês nem francês, mas vai perder um monte. Fico muito feliz quando alguém no meu trabalho comenta alguma notícia ou evento local e eu estou por dentro para poder comentar.

Como está nossa fluência depois de dez anos

Comentei no post sobre expectativa que nós achávamos que a imersão nos daria fluência em um ou dois anos; não foi assim tão fácil. E para complicar nós moramos e trabalhamos em regiões extremamente bilíngue, onde as pessoas se comunicam com a mesma facilidade em inglês e francês. Isso nos forçou a desenvolver as duas línguas.

Meu caminho foi um pouco diferente da Adriana. Minhas experiências de trabalho sempre tiveram o inglês como língua principal e o francês como uma língua secundária, em dez anos trabalhando no Quebec nunca escrevi um só email de trabalho em francês. Apesar disso tenho que usar muito francês no dia a dia fora do ambiente de trabalho.

Já a Adriana geralmente tinha, em suas experiências profissionais, o francês como língua principal e o inglês quase tão importante. Ela se dedicou a fazer um certificado (estudo universitário de um ano) em francês como segunda língua, antes de embarcar num curso universitário de três anos todo em francês.

Hoje eu me considero fluente em inglês apesar de cometer erros gramaticas aqui e ali e não ter uma pronúncia 100%. Já o meu francês é praticamente fluente, mas às vezes me falta vocabulário. A Adriana tem um francês quase impecável e um inglês também muito avançado.

As crianças tiveram sua vida escolar toda aqui no Quebec, em escolas públicas francófonas e são completamente fluentes no francês e por esforço próprio, também em inglês. Eles praticam o português em casa e com amigos brasileiros de forma que falam corretamente as três línguas.

Como fizemos para desenvolver a língua… e dicas

Chegamos aqui com francês e inglês intermediários. Sempre que alguém se diz em nível intermediário em línguas geralmente está num nível mais básico do que pensa, para nós não foi diferente. Eu sofri muito com o fato de ter me dedicado a aprender francês e ter deixado o inglês enferrujar. Solução: aula.

Eu fiz aulas particulares de inglês para melhorar a pronúncia e ser capaz de produzir construções gramaticais mais complexas. A questão é que no ambiente de trabalho, é preciso não apenas entender e se fazer entender mas também explicar, justificar e convencer. Falarei mais disso no post sobre carreira.

Usamos muita TV e leitura para melhorar vocabulário e compreensão. Muitos brasileiros mal se instalam no Canadá e já procuram como acessar a Globo Internacional ou meios de assistir Netflix brasileira. Faça um favor a si mesmo, assista TV local, use close caption se precisar de ajuda extra. Uma outra dica para quem está procurando deixar o inglês fluente é o site ESL podcast, na época que usava bastante ele era 100% free, parece que agora é pago.

Também aproveite cada momento para praticar. Use os momentos na pausa café do trabalho, no intervalo dos estudos e se envolva em conversas banais com colegas, na língua local.

E como dica final, não acredite que apenas estar no Canadá vai automaticamente fazer com que você desenvolva a língua local. Existe um limite no que se aprende pela imersão apenas, esforço precisa ser feito, é preciso estudar, se forçar a sair da sua zona de conforto e finalmente abraçar a nova cultura na qual você está vivendo.

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3 opiniões sobre “Dez anos aprendendo a falar “canadense”

  1. Pra poder sobreviver ao Trabalhador Qualificado do Quebec, tive que fazer uma prova de proficiência para alcançar o que a província considera como mínimo necessário, que é o B2 (formalmente falando: intermediario avançado). Tenho que concordar com eles, B2 é o mínimo necessário mesmo. No dia a dia compreendo relativamente bem, mas falar é algo bem mais difícil. Na verdade me sinto uma criança aprendendo a falar, só que com algumas décadas de vida já. Não volto pra casa com dor de cabeça por excesso de esforço no francês, mas a frustração de não entender tudo e de me fazer entender muito pouco é grande, na maioria dos dias, e isso tbm retarda nosso crescimento de carreira, pois quem se comunica, e bem, se destaca. Entendo que o contrário tbm é verdade, quem não se comunica fica à margem, naturalmente. Acho que essa é a maior frustração no final do dia, em termos de carreira.

  2. Em.dez anos conseguiram comprar uma casa? Sobra tempo e dinheiro para viajar, poupar? Gostaria que desse mais detalhes.

    • Olá Manuel. Ainda não compramos casa porque priorizamos outras coisas (educação) nos primeiros dez anos, a maioria dos brasilieros que vieram na mesma época que nós pagam hipoteca e não aluguel. Conseguimos algum dinheiro para viajar mas não muito 🙂 a passagem para o Brasil é cara, e temos sempre que visitar nossa família, então nosso destino de viagem acaba sempre sendo o Brasil. Com o dinheiro da passagem para o Brasil para nós quatro dá para passar uma semana num resort no caribe ou em Orlando! Tenho poupado algum dinheiro para aposentadoria privada.

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